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sábado, 27 de julho de 2013

Cabeça de Porco


Nesse mês de julho, graças as férias da faculdade, consegui finalizar um livro que há muito me esperava, além de ler outro do início ao fim.
Neste post falarei do primeiro citado, embora não tenha a pretensão, neste momento, de fazer uma análise crítica como vejo em alguns sites e blogs por aí - que destinam-se a isso. São apenas as minhas impressões sobre o livro.

O nome do mesmo é "Cabeça de Porco"


O livro, de autoria do antropólogo Luiz Eduardo Soares, do rapper MV Bill e de seu empresário, Celso Athayde, traz um conjunto incrível de visões sobre a sociedade, mostrando uma fascinante sinergia entre o conhecimento empírico de quem viveu em meio a violência (MV Bill e Celso Athayde) e a visão analítica de Luiz Eduardo Soares.

Antes de falar do conteúdo do livro em si, o título já é curioso. Confesso que quando ouvi falar do mesmo, estranhei. O fato ocorreu quando fui até a livraria da faculdade para comprar outro livro, este chamado de "Uma Gota de Sangue" - livro já citado e recomendado por mim neste blog. Quando pedi o livro "Uma Gota de Sangue" a atendente me perguntou: "Vai querer também o 'Cabeça de Porco'?". Confesso que pensei estar em um açougue ao invés de uma livraria... Mas quando adquirido o livro (recomendação de um professor), percebi a razão de ter tal nome. Na primeira página do livro há o significado da expressão "cabeça de porco": "cortiço. Na linguagem jovem das favelas cariocas, é sinônimo de situação sem saída, confusão."

Percorrendo suas páginas, fiquei voluntariamente preso a leitura inteligente, contemporânea e muitas vezes triste, que traz a realidade em que vivemos, de maneira direta ou indireta. Independente da classe social, todos já vivenciamos a violência ocorrendo, mas será que analisamos as causas que levam ao acontecimento de tais fatos? Ou ainda, será que ao menos nos importamos com isso? Afinal, mesmo que eu ou o caro leitor não moremos em uma favela, a violência não se restringe à ela.

O livro traz casos reais de pessoas que vivem do tráfico de drogas e armas, pessoas que, assim como você e eu, possuem seus sonhos, suas famílias, suas batalhas diárias e que, muitas vezes, não escolheram fazer parte desse contexto, mas que simplesmente tiveram isso "jogado nos seus ombros", nascendo numa faixa nada privilegiada da sociedade, e não encontrando meios lícitos de se sustentar, se obrigaram a fazê-lo.

O livro mostra também, de maneira muito triste, a conspiração na qual vivemos, conspiração silenciosa e não combinada que nos impede de aceitar que a mudança possa ocorrer na vida de alguém, como se fôssemos permanentemente os mesmos. É com tristeza - mas com necessidade - que se lê que muitas pessoas tentam sair do tráfico, desejam isso ao máximo, exatamente por saber que não é algo que produza um bem para a sociedade, mas simplesmente não conseguem, pois a sociedade em geral carrega a ideia de que "sendo uma vez marginal, sempre será marginal!" Percebe-se nas páginas do livro, nesse contexto, a demonização do "outro", afinal o ser humano parece ter a necessidade de jogar todo o mal sobre alguém que não seja ele próprio para poder dizer "eu não sou como ele! Eu sou bom!"- ou como o filósofo Sartre diria, "o inferno são os outros!"

O mais triste de tudo é perceber que esta realidade que vemos nos jornais diariamente, envolvendo armas e drogas, policiais e traficantes - e tendo como cenário a sociedade ao redor, lutando para sobreviver em meio às balas perdidas - não passa, muitas das vezes, de um teatro encenado pelo sistema, uma dança onde é necessário haver o envolvimento de todas as partes, senão o sistema entra em falência. Percebe-se que a polícia (não todos eles, mas os corruptos) dá subsídios para que o tráfico funcione - fazendo vista grossa - enquanto o tráfico financia os policiais (com os tais "arregos"). Além disso há aqueles policiais que ganham tão pouco e possuem estrutura tão frágil (estrutura de trabalho) para entrar numa briga na qual o Estado não quer realmente se envolver - embora não o diga. Um sacrifício heroico não valeria a pena, pois seria em vão da visão sistêmica - envolvendo, é claro, os sentimentos dos familiares do herói em questão, mas apenas uma baixa substituível da visão geral -, ou seja, o Estado não daria a mínima.

Fica a dica de uma baita leitura para todo e qualquer cidadão brasileiro, pois o livro traz uma visão que muitos nunca imaginaram dentro de suas vidinhas perfeitas e confortáveis,afinal é fácil julgar quando não é você o alvo, e mais, quando você teve condições de ter uma vida decente, não precisando recorrer à meios emergenciais para sobreviver - lembrando que "o inferno sempre são os outros. Preciso ainda enfatizar que ninguém está imune a violência, independente de quem seja e a qual classe social pertença.

Valeu, galera!

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