Seguidas vezes em minha vida passo por situações paradoxais, as quais acredito que sempre acontecerão até o fim dos meus dias.
Tendo em mente, como premissa, que sou pó e que em algum dia ao pó voltarei, contendo apenas uma centelha de sopro divino que me mantém, em certos momentos me alegro por ter atingido algum alvo, por ter dito a palavra certa num momento oportuno ou por ter tirado uma nota boa numa prova e, como qualquer ser humano, começo até mesmo a acreditar, nem que seja por um momento, que sou realmente bom, mas aí lembro que a preparação para que tudo isso pudesse acontecer e o tempo investido foram muito maiores do que o tão insignificante relance em que aconteceu. Então quando atinjo algum alvo não é porque naturalmente sou bom, mas porque treinei muito para isso; quando digo a palavra certa em algum momento oportuno não foi por ter um grande repertório de palavras, mas porque li muito a ponto de saber que aquela palavra tinha tal significado e ali se enquadraria; quando tiro uma nota boa numa prova não é devido ao conhecimento que possuía num primeiro momento, mas porque estudei, isolando o que achei ser o essencial para que o restante não me atrapalhasse e memorizando este material, embora isso não me leve necessariamente à nota dez todas as vezes. Por isso chego a conclusão que na verdade aquele primeiro pensamento que insiste em surgir, que sou bom, era uma ilusão e este sentimento se dissolve diante dessa reflexão.
Por outro lado penso em ter cuidado inclusive com este sentimento que quer aparecer agora, quando tento evitar o orgulho por aparentemente ser bom em algo, pois se quero admitir que sou humilde (e isso como uma virtude) em não ter orgulho por fazer algo, é exatamente o oposto o que acabo fazendo, me contaminando com o orgulho que espreita pelo outro lado, por admitir ser humilde, pois penso que uma virtude não pode ser admitida como tal se me gavo por tê-la. E além destes argumentos aparece algo mais forte aqui: A vontade e as ações que tenho são espadas de dois gumes em minhas mãos, servindo tanto de bem quanto de mal, não que deseje a segunda opção, mas porque a minha condição humana e falha é susceptível à ela, que insite em aparecer dia após dia.
O que acontece então é que, enquanto cuidadosamente procuro fazer tudo da melhor maneira possível, com as melhores atitudes possíveis, as melhores opções analisadas e consideradas, o maior cuidado tomado, construindo lentamente e com toda a atenção o meu castelo de cartas, algum deslize acontece e tudo aquilo que, até então, foi construído, desaba...
Em um momento, através de uma palavra tola, alguém é magoado; em outro, devido à uma atitude tomada em momento inoportuno ou ainda uma omissão, um dano irreparável ocorre quando um coração se parte e não há palavras que possam remendá-lo.
Aí fica evidente que toda aquela aparente bondade que possuía realmente não pode ser tão grande assim, pois como eu poderia causar tantos danos sendo tão bom como pensava?
E a pergunta que sei que nunca será respondida, pelo menos em vida, é: Qual é a proporção ideal?
Dizem que há para tudo na vida a chamada Divina Proporção, mas aparentemente, para este âmbito, mais abstrato, ela não tem eficácia.
No final das contas sou apenas o que sou, humano, falho, precisando andar um passo de cada vez para poder reconhecer o terreno (em alguns momentos me alegrar por atingir uma meta, em outros aprender com meus erros e pedir perdão por ter magoado alguém), e depender de uma Graça que me tire de onde estou, pois pelas minhas próprias mãos não conseguirei ir muito longe. Acredito até mesmo que esses colapsos, esse deslizes estão dentro de um plano para que, dentro das minhas limitações, não venha a pensar que sou além daquilo que sou: Pó!
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